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sábado, 9 de janeiro de 2010

Armadilha Japonesa


Sou totalmente contra escatologia. Pum e afins não costumam fazer parte do meu repertório, assim como odores malcheirosos que saem do nosso corpo. Mas, dada a gravidade do problema que narrei a seguir, vou abrir uma exceção.

Comida japonesa é bonita. Comida japonesa é gostosa. Comida japonesa é romântica. Comida japonesa é carinha também, mas isso não vem ao caso agora. O que importa é que restaurantes japas instigam o romance e acabam sendo o rumo de muitos casais num primeiro encontro. Foi o que aconteceu comigo e o Lee, um gatito de 15 aninhos. Nós já nos conhecíamos há algum tempo, mas só agora ele tomou coragem e me convidou para sair.

O primeiro mico aconteceu na chegada.

- Tirar os sapatos? Fala sério! Pra quê?! – reagi indignada ao pedido da recepcionista.

- Lory, aqui é um japonês legítimo. A gente vai sentar no chão, de pernas cruzadas, um do ladinho do outro, super-romântico – Lee gatito explicou, com aquele sotaquezinho oriental.

- Mas é que...

- Qual é, Lory? Não quer mostrar os pezinhos, é? Por quê? Será que você tem seis dedos?

- Dããã! – foi o máximo que consegui responder para o Lee gatito e chatito.

Eu não teria escapatória. O talquinho que minha mãe comprara para amenizar meu chulé (que, admito, estava numa de suas piores fases) não passaria despercebido por ninguém, muito menos pelo Lee. Tirei o tênis e fui para a cabaninha que ele tinha reservado deixando medonhas “pegadas” brancas pelo carpete vermelho-escuro do restaurante. Que vergonha!

- Você usa talco, que bonitinho! – exclamou Lee.

Bonitinho? O que um cara não diz quando quer muito ficar com uma garota!

- É mania, uso desde pequena – menti. Ah! Não ia falar pro menino que estava com chulé, né?

Depois de muitos sushis e sashimis, teve início o meu drama. Do nada, minha barriga começou a emitir sons que me mataram de vergonha. Altos, pouco espaçados, era como se meu estômago estivesse aprendendo a tocar trombone.

- Ui, olha minha barriga roncando! Será que mesmo depois de comer ainda estou com fome? – tentei disfarçar.

Lee gatito foi mais que direto:

- Não, ronco de fome é diferente. Você está é com gases, Lory.

Pronto. A minha noite romântica tinha ido pro brejo. Afinal, vamos combinar que “gases” é a forma educada de dizer pum. Terminamos de jantar em silêncio com minha barriga sinfônica me embaraçando a cada barulho esquisito que emitia. Cheguei em casa e liguei para o pai de uma amiga minha, que é médico, e ele me disse que em algumas pessoas, peixe cru, especialmente à noite, pode dar gases. Eu não sabia! Ninguém tinha me avisado! Por isso, por via das dúvidas, melhor evitar japonês num primeiro encontro. E nada de talquinho nos pés!